quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Fartança

Água que cai no chão
Água que voa em vão                                 
Mente demente sem cara sem dente
Água que pinga...                 
que pinga ardendo...

Que mata o fígado que traz ferida

Água torneira
que cai na foz  do nada
e o nada vira esgoto nu
Escorre em atos

Na tua boca e a desperdiça feito mosca

Seco molha,vento encharca
Água enferma fermentada
Tempestade a noite já raiou
Noite seca, frio deságua
Brota a terra abençoada
Silêncio!

O som da chuva faz calar o medo

Vem o vento, ventania

Vislumbrando agonia
Água morna, água pura
Anunciando fuga
Quanto menos se espera
um suspiro se escuta
Cara seca desdentada
implorando fartura

Quanto menos se espera
um suspiro se escuta
Cara seca desdentada
Implorando...

Letra e melodia: Camila Jatobá
Arranjos: João Almy



Camila e Djavan

Djavan

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Fim ou começo de tudo???

Busca Preciosa


Como as gemas brotam da terra
Encobertas de poeira secular
Visão bruta e repentina
Aturde...   ...Esplendor

Cavo, picaretas e pás são companheiras eternas.

O fruto da riqueza
É mais que a efêmera moeda.
A pedra de Talento.
Côvados medidos em ouro.

Cavo, mãos calejadas curadas com suor.

Magia e encantamento
Força da natureza
O brilho refletido
E a luz interior do minério

Cavo em busca da centelha divina do mais puro brilhante.

Pedra bruta
Luz divina
Mapa do corpo
Terra da alma
Solo da vida
Luz do dia
Força da mente
Poder do Espírito
Busca do amor

Carlinhos Moraes

Espelho D´Água



Entre as águas ando respiro suspiro e fluo
Oscilo entre o puro e profano tua blusa
Recolho impressões no eterno correr das águas

Sinto o correr do rio coronário nascente do coração.
Pulso e escorro enquanto a luz penetra por veios escuros nas entranhas da mata procuro nas águas mornas morada do grande amor de cabelos e olhos negros
 Ah!... Yara do Mundaú

Entre as árvores fluem ventos de cheiros suaves como encanto que atraem abelhas em bromélias entre tuas pernas cipós que não estrangulam
A alegria desanda em risos nos passeios de mãos dadas
qual criança a colher cerejas e tomar o teu suor como licor.
Pássaros são mágicos em cantos de anunciação as cores explodem anunciando no ar novas matizes que decompões e recompõem a nossa imagem no espelho d´água

A luz e a água serpenteiam presenteia e consagram a vida dos peixes os suspiros e as ilusões
a água no sangue no fluxo da veia na boca sons de dizer
- te amo – ...e conviver com a diferença das palavras
do corpo da seiva e da saliva no que é água riacho de lamina fina leito e ponto de acalanto no arco dos teus braços

No destruir e reconstruir renovando a pele dos pés sentir o sal e ser o mar das águas recebidas

Correr a galope com a liberdade atrelada a tua
e resgatar no sempre inserindo novas cores paisagens renovadas olhar e refletir a imagem e semelhança das nossas diferenças nas águas doces dos rios nas águas do mar e dançar a dança da sagração com as sereias como crianças alegres sem o medo de bulir em tudo que é pecado

Gritar livre entoando o canto das águas que correm em liberdade pelos tabuleiros colhendo cerejas aqui e ali
Perto e longe como as Alagoas.
Ser fonte e rio Mar e maré
Eito marco e madeiro na vida pelas águas cangaceiras.
E não lavar a culpa como um cristão arrependido pela morte das águas.
                                         
 Chico Canindé 9.11.06

Sobre uma bela narrativa



O que seria da vida senão fossem tamanhas dores? E o que Dolores seria se não fosse tamanha vida? Apesar da resposta nunca fechar em palavras de rasgar páginas antes prontas para qualquer brincar, o livro pede por duas grandes indicações. É uma narrativa simples, direta, divertida e cheia de vida. Enfim, a narrativa voltou da alma e as experiências deixaram de ser fatos noticiados. Por todas as linhas construí essa tal Dolores, uma mulher que ainda não sabia o valor de ser querida. Você que deve conhecê-la melhor que eu, às deveria perguntá-la porque foi tão difícil o aceitar do amor a tanto manguear, sem muitas explicações mas apenas sopros das feridas que estão ali abertas bem no Arraial. As drogas não causam, como ela mesmo disse, as drogas apenas acalmam antes de cortar inda mais. O que é esse vácuo? Essa angustia moderna?

Hoje, Dolores já deve estar bem mais próxima do final, mas como ela bem colocou: que final é esse? Como poderíamos cobrir uma vida como começo, meio e fim, sendo que a vida já estava ali bem antes do dizer? Enfim, ás vezes o que mais procuramos é uma simples significação causal. A significação não pode ser descartada, a significação morre para ser plantada, é comida para alma, é tendência para o coração.

Nem de longe poderia descobrir a significação de Dolores, que apesar de pura vida, é mulher quase menina. Porém, a distância desvela o diferente, a singularidade que só quem mirou nos olhos de Dolores pode sentir, uma generosidade infindável. Grande flor que ainda não aprendeu a se ver sem espelho e que, talvez, se entenda no diluir da imagem em um momento de epifania com o mundo, com todos esses encontros que a fizeram Dolores; não seria um começo para outro final?